quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

4º DOMINGO DA QUARESMA - Ano C



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD



QUARTO DOMINGO DA QUARESMA - Ano C
Lc 15, 1-3.11-32
"Seu irmão estava morto e tornou a viver"



Oração do dia

Ó Deus, que por vosso Filho

realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano,

concedei ao povo cristão

correr ao encontro das festas que se aproximam

cheio de fervor e exultando de fé.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Lucas 15,1-3.11-32)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 15,1 Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. 
2 Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida! 
3 Então lhes propôs a seguinte parábola: 
11 "Um homem tinha dois filhos. 
12 O mais moço disse a seu pai: 'Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca'. O pai então repartiu entre eles os haveres. 
13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. 
14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. 
15 Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. 
16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 
17 Entrou então em si e refletiu: 'Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância e eu, aqui, estou a morrer de fome!' 
18 Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: 'Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; 
19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 
20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 
21 O filho lhe disse, então: 'Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho'. 
22 Mas o pai falou aos servos: 'Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. 
23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. 
24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa'. 
25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 
26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. 
27 Ele lhe explicou: 'Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo'. 
28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. 
29 Ele, então, respondeu ao pai: 'Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. 
30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!' 
31 Explicou-lhe o pai: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 
32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado'". 
- Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO
O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase sobre a misericórdia de Deus. Se fosse para classificar em uma só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos sem hesitação assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo salienta essa convicção tanto como o capítulo 15. A parábola aqui relatada está entre as mais conhecidas da Bíblia - geralmente chamada “O Filho Pródigo” (‘pródigo’ significa ‘esbanjador’). Devemos ter um pouco de cuidado com esse título, pois já sugere que a figura central da parábola é o Filho Pródigo, o que não necessariamente é a interpretação mais adequada!

Para sermos fiéis ao evangelho, devemos interpretá-lo dentro do seu esquema teológico e literário. Para isso, temos que dar muita atenção aos primeiros três versículos; pois, nos dão o motivo pelo qual Jesus contou as três parábolas do capítulo, uma chave valiosa de interpretação. São como um gancho sobre qual se pendura o resto do capítulo: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas, os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!” (vv. 1-2). Depois vem a chave de interpretação: “Então Jesus contou-lhes esta parábola” (v. 3). Ou seja, Jesus contou as parábolas deste capítulo porque os chefes religiosos o criticavam por associar-se com gente de má fama! Então, a chave de interpretação é a atitude dos fariseus e doutores, contestada pelo ensinamento de Jesus. O problema de fundo não é só a prática de Jesus, mas a experiência de Deus. Para os oponentes de Jesus, Ele não pode ser de Deus, agindo assim, pois Deus não acolhe pecadores. Para Jesus, Deus é exatamente o oposto – Ele é compaixão e misericórdia, e, por isso, corre atrás dos pecadores. Quantas vezes, falando de Deus, nós cristãos demonstramos um Deus como o Deus dos escribas e não o Deus de Jesus! Assim também a parábola nos interpela hoje!

Podemos ler este texto a partir do “filho perdido”, ou do “pai”, ou do “irmão mais velho”. O título tradicional implica uma leitura a partir do “pródigo” (Pródigo significa “esbanjador”). Assim, ressaltaria o processo de conversão - sentir a situação perdida, decidir a pedir reconciliação, ser aceito pelo Pai, reativar os relacionamentos perdidos e estragados. Sem dúvida, uma leitura válida do texto como tal - mas diante dos primeiros dois versículos do capítulo, talvez não a interpretação primária que Lucas quisesse dar.
Outra possibilidade é de ler a história a partir do pai. Sem dúvida, também válido. Assim, o pai representa o próprio Deus, que em primeiro lugar, respeita a liberdade de decisão do filho, não impedindo que ele seja “sujeito” da sua vida; depois, não espera a volta do “pródigo”, mas corre ao seu encontro, numa atitude não “digna” de um fidalgo oriental idoso, pois o pai está preocupado mais com a reconciliação do que com o prejuízo, e se alegra com a volta de quem estava morto! Mais uma vez, uma leitura mais do que aceitável!
Mas, o contexto do capítulo, à luz dos primeiros versículos, sugere uma leitura diferente - a partir do irmão mais velho. Pois, Jesus conta a parábola para contestar a atitude dos fariseus e doutores da Lei, que o reprovam, porque Ele acolhe os pecadores! Então, o filho mais velho é a imagem dos fariseus - “gente boa”, fiel na observância da Lei, mas, cujos corações estão fechados, ao ponto de serem incapazes de alegrar-se com a volta de um irmão perdido. Assim, embora observem minuciosamente todas as prescrições da Lei, a atitude deles contradiz claramente a atitude de Deus, demonstrada pela ação do pai misericordioso! Essa diferença de atitude se resume claramente nos termos que ambos usam, referindo-se ao filho mais moço. Enquanto o filho mais velho o chama de “este teu filho” (v. 30), o pai fala “este teu irmão” (v. 32).
Aqui Jesus quer questionar todos nós que somos “praticantes”. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho - “gente boa”, gente de “observância”; mas, gente incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-nos com a volta ao estado original, de um irmão ou uma irmã perdidos?
Podemos até dizer que este capítulo de Lucas é o coração do Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estava perdido. É o Deus da misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus em nossa vida?


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