quarta-feira, 29 de maio de 2013

11º DOMINGO COMUM - Ano C



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 7, 36 - 8, 3
“A quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor”

Oração do dia
Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo e, como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Lucas 7,36-8,3)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 7,36 Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. 
37 Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; 
38 e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. 
39 Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: "Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora". 
40 Então Jesus lhe disse: "Simão, tenho uma coisa a dizer-te". "Fala, Mestre", disse ele. 
41 "Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. 
42 Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?" 
43 Simão respondeu: "A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou". Jesus replicou-lhe: "Julgaste bem". 
44 E voltando-se para a mulher, disse a Simão: "Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. 
45 Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. 
46 Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. 
47 Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama". 
48 E disse a ela: "Perdoados te são os pecados". 
49 Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: "Quem é este homem que até perdoa pecados?" 
50 Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: "Tua fé te salvou; vai em paz". 8,1 Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele; 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; 3 Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.
- Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO

O trecho de Lucas de hoje - por sinal riquíssimo - trata de três temas característicos desse Evangelho:

- a misericórdia de Deus;
- o relacionamento de Jesus com as mulheres;
- o perigo que todos nós corremos de nos considerarmos “justos”, desprezando os outros.
Lucas é um verdadeiro artista de palavras. Seria quase impossível ler ou ouvir esse trecho sem imaginar a cena. Jesus e os convidados, não sentados à mesa, como nós no Ocidente, mas reclinados sobre almofadas; a chegada da mulher, desprezada na vila por todos, com certeza sentindo-se humilhada, mas movida por uma força maior que a faz enfrentar corajosamente o desprezo dos outros e penetrar por dentro da casa de um fariseu - coisa inédita! Mas quem é impulsionado pelo amor e pela experiência de Deus não mede esforços. Depois, as lágrimas - não de tristeza, mas de gratidão, de alívio, de uma profunda alegria do ser - o enxugar dos pés, o perfume.
E a reação de Simão, o fariseu! Ele, que se julga “justo” e não “pecador” - com razão, segundo os critérios da sociedade e da religião oficial do tempo - se dá o direito de julgar tanto a mulher, como a Jesus. Para ele, como para muitos de nós, ser justo é cumprir as leis, e assim deixar de ser pecador. Cumprir as leis, Simão faz com afinco! Assim, ele se justifica (se torna justo), dispensando, na realidade, a graça e o perdão de Deus. Quem considera que não esteja necessitado de perdão, jamais será capaz de entender a sua força transformadora, que nos capacita para o amor.
Jesus, porém, reage de uma maneira bem diferente. Através da parábola dos dois devedores, ensina que é a experiência de ser perdoado que leva ao amor. Não o contrário! A mulher na história não foi perdoada porque ela antes muito amou, mas muito amou porque ela foi antes perdoada! O amor é a consequência da ação do perdão de Deus. Quem nunca foi perdoado, dificilmente vai perdoar; quem nunca foi amado, terá dificuldade em amar. O perdão de Deus não é a reação d’Ele à nossa iniciativa de amar - pelo contrário, é Deus quem toma a iniciativa de perdoar, e essa experiência de sermos perdoados nos capacitará para que possamos amar. O nosso amor é a nossa resposta à iniciativa gratuita e amorosa do Pai - não temos que conquistar este amor e este perdão, nem merecê-los, mas aceitá-los, assumi-los e responder a eles. Com certeza, esta mulher deve ter se encontrado antes com Jesus na vila e, talvez pela primeira vez sentiu-se amada e perdoada por Deus. Assim, transborda de alegria e emoção, fazendo o que fez na casa do fariseu.
Todos nós corremos o risco de agirmos como Simão! A formação dele, rígida e legalista, o impediu de acolher a mulher e também de reconhecer em Jesus a compaixão e misericórdia de Deus. Muitas vezes, temos recebido uma formação espiritual que na verdade era em grande parte “farisaica”, baseada no cumprimento de leis e práticas externas de piedade, que são importantes, como se nós pudéssemos nos justificar diante de Deus. Temos de refazer a experiência de Paulo, fariseu ferrenho, que descobriu que nenhuma prática religiosa - por mais importante que seja - pode nos justificar. A vida de Paulo mudou quando ele fez a experiência da gratuidade do amor de Deus, e o resto da vida dele foi uma resposta a este amor gratuito. Mas, a consequência de uma formação errada pode ser de nos darmos o luxo de julgar, classificar e desprezar os outros, que são “pecadores”, conforme os nossos critérios. Cuidemos com o fermento dos fariseus!
Esse trecho dá grande destaque às mulheres. Jesus rompeu com as tradições patriarcais e machistas do Seu tempo. Não só se deixou tocar por mulheres “pecadoras” - assim, se tornando impuro conforme as leis do tempo - como se fez acompanhar nas suas andanças pela Galiléia por várias mulheres, que faziam parte do seu grupo de seguidores/as. Não é claro se Lucas salienta este ponto para refletir a grande liderança de mulheres nas suas comunidades, ou, pelo contrário, para contestar uma tendência machista de cortar esta liderança, lembrando aos seus leitores que Jesus não aceitava nenhuma discriminação baseada em gênero. Durante séculos, a Igreja, em grande parte, perdeu esta novidade de Jesus, assumindo os padrões patriarcais e machistas da sociedade dominante. Devemos voltar a esta visão de fraternidade e igualdade entre homens e mulheres, como pede o Papa João Paulo II na sua Exortação Apostólica “Vita Consacrata”, quando ele conclama as mulheres a serem protagonistas de um “novo feminismo” (VC 58): “Por certo, não se pode deixar de reconhecer o fundamento de muitas reivindicações relativas à posição da mulher nos diversos âmbitos sociais e eclesiais. Do mesmo modo, é forçoso assinalar que a nova consciência feminina ajuda também os homens a reverem os seus esquemas mentais, o modo de se autocompreenderem, de se colocarem na história e de a interpretarem, de organizarem a vida social, política, econômica, religiosa, eclesial.” (VC 57).
Que o Evangelho de Lucas nos ajude a recuperarmos as atitudes de Jesus, para que as nossas comunidades sejam realmente comunidades de fraternidade, igualdade, perdão, misericórdia e amor!


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