quarta-feira, 28 de agosto de 2013

23º DOMINGO COMUM - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 14,25-33
Quem não carrega a sua cruz... não pode ser meu discípulo



Oração do dia
Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que crêem em Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Lucas 14,25-33)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. Naquele tempo, 14,25 Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes: 
26 "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 
27 E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo. 
28 Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? 
29 Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, 
30 dizendo: 'Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar'". 
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Aprofundando o ensinamento sobre o discipulado, Jesus aqui expõe as condições para um verdadeiro seguimento. À primeira vista, a leitura pode nos chocar! Pode até parecer que Jesus esteja ensinando algo que não condiz muito com os ensinamentos cristãos. Isso especialmente se a tradução da nossa bíblia fala que nós devemos “odiar” os nossos pais e família (uma tradução literalmente correta). Mas aqui estamos novamente diante do problema das culturas e das línguas. Pois, esse texto nos traz um “semitismo”, ou seja, uma expressão de uma língua semita (no caso de Jesus, o aramaico, embora Lucas escreva em grego) que tem que ser interpretada no contexto da cultura que aquela língua expressa. O aramaico e o hebraico usavam muitas expressões assim, que não tinham a mesma força que têm em português. Realmente o termo traduzido por “odiar” significava “desapegar-se”. Então podemos traduzir em termos inteligíveis portugueses: “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim do que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (v. 26).

Jesus quer deixar bem claro - como ele faz muitas vezes “na caminhada” - que a opção pelo Reino necessariamente exige renúncias. Não só renúncia do mal e do pecado, mas renúncia de coisas altamente positivas em si; não renúncia por renunciar, mas em vista de um bem maior - o Reino de Deus, o único bem que pode satisfazer plenamente os anseios mais profundos do coração humano. Por isso, a vinda de Jesus pode ser vista como a crise escatalógica última - pois põe todos nós diante da opção mais fundamental - quais são os valores reais da nossa vida?
No mundo pós-moderno, onde se foge dos compromissos permanentes, onde tudo é relativizado, os desejos individuais são absolutizados, e a subjetividade se confunde com o individualismo, esta proposta soa como contra-cultural. Pois Jesus nos convida a definir os valores mais profundos da nossa vida - e insiste que nada, por mais valioso que seja, possa ser mais importante do que a dedicação total ao Reino. Claro, ele não obriga - estamos livres para recusar esta exigência, mas então não seremos discípulos d’Ele! Aqui põe em cheque a vivência do cristão que “não é frio nem quente, mas morno”, e por isso mesmo “está para ser vomitado da minha boca” (Ap 3,16).
O tema da cruz reaparece aqui - e de novo lembramos que “carregar a cruz” não é de maneira alguma simplesmente “sofrer”. É a consequência de uma coerência com o projeto e a proposta de vida de Jesus. É condição imprescindível para quem quer ser discípulo d’Ele: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (v 27). Podemos dizer que, se o trecho que precede este texto (vv 15-24, “Um rei fez um grande banquete”) enfatiza a gratuidade do chamamento da parte de Deus, esses versículos salientam o outro lado da medalha - a resposta incondicional dos discípulos. Todo o Evangelho de Lucas - como também os outros - deixa bem claro que esta resposta é a meta da nossa vida. Ninguém começa a caminhada com total dedicação ao Reino - mesmo que pense que faz! É na caminhada de anos, com as nossas incoerências, tropeços, erros, e traições, que a gente aprende a ser discípulo/a. A experiência de Pedro e dos Doze que nos diga!
As duas parábolas seguintes - a do construtor tolo e do rei que vai à guerra - nos ensinam a necessidade de reflexão antes da ação. Ou seja, aqueles que querem seguir Jesus devem refletir sobre o preço a pagar. A situação triste do construtor falido e do rei derrotado são símbolos da situação do discípulo que desistiu “pelo caminho”.
A reflexão sobre as exigências do discipulado pode nos desanimar diante da realidade das nossas fraquezas, a não ser que reflitamos também sobre a gratuidade de Deus que não nos abandona, mas nos ama como somos e nos dará forças para a caminhada. Assim foi a experiência do grande discípulo Paulo, que após longos anos de experiência, incluindo as maiores experiências místicas e os maiores sofrimentos, pôde afirmar com toda a sinceridade: “Eu não consigo entender nem mesmo o que faço; pois não faço aquilo que eu quero, mas aquilo que mais detesto... Não faço o bem que quero, e sim o mal que não quero” (Rm 7, 15s). Mas, mesmo assim, reconhecendo os fracassos e falhas na sua caminhada de discípulo, exclama com alegria: “Portanto com muito gosto, prefiro gabar-me das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. É por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte (2Cor 12, 9s).
Pois, se ele fez a experiência das exigências inerentes ao seguimento de Jesus, ele também fez a experiência da graça de Deus: “Para você, basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta o seu poder” (2 Cor 12,9).
Não tenhamos medo de assumir o desafio que Jesus hoje nos lança, pois ele nos dará a graça necessária para a caminhada. Basta querer e pedir!


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